Acordei de manhã a pensar "porque tinha que ficar doente e não sair ontem?"...
À hora de almoço o pensamento mudou para "porque tinha que carregar o raio das barricas sozinha e agora estar lixada das costas?"...
Ao final da tarde a questão já era "porque raio é que a correia de distribuição tinha que rebentar logo hoje que é dia de ir ao concerto?"...
Entre tantos porquês, a única resposta é que não havia explicação! E pronto, mais uma vez sem explicação, ainda hoje fui dar com umas palavras que se adaptaram muito bem ao meu dia. Ei-las:
«(…) - Ás vezes pergunto-me, quero dizer, perguntava-me: como é que chegou tudo aqui? – disse Miguel. – Perguntava-me pergunto-me, mas não muito. Tenho asco ao porquê. È a fórmula dos desocupados, dos tinhosos, dos raquíticos. Que adianta o porquê? A razão escolhe-se para ser razão. Antes de ela ser escolhida já se foi o que se tinha de ser. Mas ás vezes perguntava-me como é que vim dar aqui?...
Não há como é que, há só o ter chegado, que é que interessa? Não me sinto confortável em parte nenhuma do meu ser, o meu erro é orgânico e não é assim erro nenhum. Mas não me sinto bem nele, devo ter nascido em mim por engano. E de súbito. (…) »
In Até ao Fim, Virgílio Ferreira
Sem comentários:
Enviar um comentário