Depois de, esta semana, saber de um amigo que se "despediu" da avó, fiquei com uma certa nostalgia a lembrar o tempo em que, amargamente, disse «aDeus» a entes queridos... 7 anos volvidos, publico agora as palavras que na altura partilhamos p'lo jornal local... Porque aqueles que partem, quando nos são queridos, permanecem vivos no cantinho especial que ocupam no nosso coração.
«Gostaria de vos transmitir uma experiência simples. Foi necessário algum tempo para passar esta mensagem. E não chegariam estas palavras para o todo que vai cá dentro...
Aprendi no tempo que a Vida não se domina.
Não se controla.
Não se perde nem se rouba.
Não desvanece.
Não se cria... porque nela tudo se transforma!
Assim era o meu amigo: transformava-se pela Vida. Entregava-se de coração. De corpo e alma.
Foi mestre sem o saber. Guiou-me sem nunca perceber a direcção que tomava.
Soube escutar. Falou na altura devida e não mais que apropriada.
Protestou sem nunca ferir fosse quem fosse. Na separação procurou sempre unir.
Na tristeza gracejava perante o infortúnio e levantava bem alto o queixo para desafiar ainda mais a má sorte.
Soube ser simples. Procurou a sobrevivência através de Deus e creio que no fundo sempre o teve por perto. Deu-me esta força e no entanto acabou fraco!
Sempre na corrida pelo melhor dos outros, mas sem nunca ser ele o melhor fosse no que fosse.
Lia. Lia muito. Do tempo que me recordo passava o dia a ler quase de manhã até à noite. Não se cansava. Fosse uma revista ou um jornal. Apesar disso não era versado na literatura. Não dominava a cultura. Era simples tal como a vida que passou e que com ele partilhei.
Dizia que os homens não choram, e no entanto recordo com carinho o seu choro na solidão quando perdeu a companheira. A vida foi-lhe cruel...
Fez-me confidente sem nunca me assumir como tal. Sorria perante as criancices a que assistia. Quanta paciência!
Com ele fiz-me Homem. Ajudou-me a andar. Amparou-me na fraqueza. Mostrou-me o quanto vale lutar por algo em que realmente acreditamos!
Agora reconheço o quanto ele foi moldando o meu barro sem ter alguma vez aprendido arte alguma que não fosse a arte singela de ler...
Acredito que foi feliz. Muitos de nós nunca o chegaremos a ser. Foi-o porque sempre viu nos outros respeito e amor. E isso por si só é suficiente!
Hoje pelo que sou dou-lhe graças porque sem o saber me mostrou Deus através da sua vivência humilde.
São para ti estas palavras que nunca te cheguei a dizer: obrigado por tudo!
Obrigado por me mostrares que atrás de uma montanha está sempre outra ainda maior. Que o tempo não é obstáculo. Que o choro não passa de um desabafo. Que a morte é um ponto de passagem para Deus e não o fim da linha.
Por isso te digo aquilo que não tive oportunidade: até sempre meu amigo!
Até sempre meu querido Avô!...»
Aprendi no tempo que a Vida não se domina.
Não se controla.
Não se perde nem se rouba.
Não desvanece.
Não se cria... porque nela tudo se transforma!
Assim era o meu amigo: transformava-se pela Vida. Entregava-se de coração. De corpo e alma.
Foi mestre sem o saber. Guiou-me sem nunca perceber a direcção que tomava.
Soube escutar. Falou na altura devida e não mais que apropriada.
Protestou sem nunca ferir fosse quem fosse. Na separação procurou sempre unir.
Na tristeza gracejava perante o infortúnio e levantava bem alto o queixo para desafiar ainda mais a má sorte.
Soube ser simples. Procurou a sobrevivência através de Deus e creio que no fundo sempre o teve por perto. Deu-me esta força e no entanto acabou fraco!
Sempre na corrida pelo melhor dos outros, mas sem nunca ser ele o melhor fosse no que fosse.
Lia. Lia muito. Do tempo que me recordo passava o dia a ler quase de manhã até à noite. Não se cansava. Fosse uma revista ou um jornal. Apesar disso não era versado na literatura. Não dominava a cultura. Era simples tal como a vida que passou e que com ele partilhei.
Dizia que os homens não choram, e no entanto recordo com carinho o seu choro na solidão quando perdeu a companheira. A vida foi-lhe cruel...
Fez-me confidente sem nunca me assumir como tal. Sorria perante as criancices a que assistia. Quanta paciência!
Com ele fiz-me Homem. Ajudou-me a andar. Amparou-me na fraqueza. Mostrou-me o quanto vale lutar por algo em que realmente acreditamos!
Agora reconheço o quanto ele foi moldando o meu barro sem ter alguma vez aprendido arte alguma que não fosse a arte singela de ler...
Acredito que foi feliz. Muitos de nós nunca o chegaremos a ser. Foi-o porque sempre viu nos outros respeito e amor. E isso por si só é suficiente!
Hoje pelo que sou dou-lhe graças porque sem o saber me mostrou Deus através da sua vivência humilde.
São para ti estas palavras que nunca te cheguei a dizer: obrigado por tudo!
Obrigado por me mostrares que atrás de uma montanha está sempre outra ainda maior. Que o tempo não é obstáculo. Que o choro não passa de um desabafo. Que a morte é um ponto de passagem para Deus e não o fim da linha.
Por isso te digo aquilo que não tive oportunidade: até sempre meu amigo!
Até sempre meu querido Avô!...»
(autoria R.M., 2001)
Faleceu com 90 anos, 6 meses depois da companheira ter partido. Se desistiu da vida por ela, n sei...Mas que sempre foi lutador, garanto. Recordo com ternura tudo que vivi com eles. Há sempre uma lágrima doce a cair quando relembro o quanto fui feliz a brincar e a aprender com eles...
Faleceu com 90 anos, 6 meses depois da companheira ter partido. Se desistiu da vida por ela, n sei...Mas que sempre foi lutador, garanto. Recordo com ternura tudo que vivi com eles. Há sempre uma lágrima doce a cair quando relembro o quanto fui feliz a brincar e a aprender com eles...
1 comentário:
Eles continuam ai, contigo... como aquela rosa que mesmo "gasta" pelo tempo continua, aqui, perto de mim, perto do meu coração, com o mesmo significado do dia em que a colheste, numa despedida daquele lugar que tanto te dizia...
Beijo grande, miga
Enviar um comentário