...
«Hoje vai ser o pior domingo da história», dizia o gerente enquanto estavamos os quatro na loja olhando para a porta na esperança de ver alguém entrar. «Faltam os bons clientes, nem parece domingo.»
Era ver quem mais abria a boca entediado com as horas mortas que se ia somando. Animação, só mesmo no cd do Ricky Martin a tocar. A música já cansa, mas pelo menos é um som de fundo que "enche" a loja.
Mudamos de posição só mesmo para sentir que ainda nos mexemos. Parecemos perros, dá vontade de espreguiçar e deitar como se ninguém lá fora nos visse.
Entram clientes, ou pelo menos nós assim os apelidamos. Estão só a ver, mas os portugueses fazem-no com as mãos. Casacos abertos, calças desalinhadas, gravatas a cair - é o pão nosso de cada dia esta desarrumação. Pelo menos dão-nos algo para fazer, entre desarruma e arruma o tempo sempre vai passando.
Volta e meio, "foge-se" para o armazém. Beber água, devorar bolachas, enviar sms, ou simplesmente alapar o rabo, tudo vale para escapar por uns minutos ao aborrecimento eminente na loja. Há quem vá até ao armazém queimar tempo com a escrita, mas tamanha idéia só pode sair de uma cabeça como a minha. Já que hoje nem limpezas há para fazer, põe-se os neurónios a exercitar.
Com tudo isto, são quatro os olhares vazios na loja que comunicam entre si apenas por se "tocarem". Há horas em que nos cansamos uns dos outros, as conversas terminam ou dão lugar a brincadeiras sem nexo algum. Uns cantam, uns dançam e todos nos rimos de nós mesmos, como se as horas que passam levassem parte da nossa sanidade com elas.
Hoje não considero isto um trabalho, mas de modo algum diria que é um emprego - o cansaço psicológico que daqui advém não permite considerá-lo. De "consolo" (para uns) fica o pensamento algo positivo de que recebemos o dia a dobrar sem fazer algum...
...
Sem comentários:
Enviar um comentário